domingo, 6 de novembro de 2016

A ousadia do Mal e a passividade do Bem

Estes dias eu venho acompanhando reportagens a respeito das regiões de conflitos no Oriente Médio, principalmente aquelas onde o terrorismo possui domínio territorial. E milhares de pessoas que tentam fugir dessa guerra buscando oportunidades em outros Países, principalmente os Europeus. Fico chocado com tamanha maldade, com os diversos abusos que ocorrem com mulheres e crianças. Mulheres vendidas, crianças arrancadas de suas famílias onde meninas sofrem todo tipo de violência e meninos separados ainda muito jovens para o exército terrorista, ou seja, são "culturalizados" com uma ideologia perversa e distorcida, principalmente da religião, para que isso se torne suas verdades, suas missões de vida. É de impressionar tamanha ousadia e disposição do terrorismo que transfere para essas crianças o conceito da ignorância e com ela o ódio, o preconceito, a intolerância, a exclusão, a indiferença com a vida, o desrespeito com a liberdade, com a "ética" e com as "virtudes". Desde cedo aprendem a atirar e utilizar todo tipo de armamento para tornarem-se soldados da "causa", que na verdade se transformarão em assassinos profissionais. 
E aqui no Brasil, por exemplo, não é muito diferente. O “Estado do crime” também vem se estabelecendo, de forma competente. Nos morros e periferias conseguem através da ausência da "civilidade" recrutar, culturalizar e treinar muitos jovens formando também seu próprio exército. Sua influência saiu dos becos, das esquinas, das cadeias e, sem pedir licença, invadiu e misturou-se nas relações sociais. Infelizmente essa cultura distorce e engana a muitos provocando inversão de muitos "valores essenciais" (conseguiu transformar a ignorância em virtude – a ignorância virou moda). A culturalização do crime faz com que ele se torne normal!  
É espantoso como o "mal" é determinado, arrojado, engenhoso, ativo e valente. Ele avança, invade (não pede licença), surpreende, domina e "vence". O mal nunca descansa! (estou falando de uma visão concreta, de uma realidade concreta, não estou falando de religião ou de espiritualidade). Enquanto que o "bem", muitas vezes é passivo, talvez porque carrega consigo uma esperança (enraizada) de que a “justiça divina” um dia vencerá (não digo que pensar desta forma seja errado, mesmo porque não faço críticas à fé das pessoas). O mal carrega consigo a ignorância.  Difunde-se através da ignorância, culturaliza as massas através da ignorância e através dela se estabelece. Trás consigo a tirania e a escravidão: o engano, a estagnação, o conformismo, o fechamento, a indolência, a indiferença, o preconceito e consigo a intolerância e a violência. 
Mas, infelizmente a ignorância, contudo, carrega o discurso de que “as coisas são sempre assim. De que sempre foi assim, porque está determinado, ou porque o mundo é assim "do maligno”, ou porque o homem é mal por natureza e temos que nos conformar com tudo isso". Cria, historicamente, nas sociedades o conceito de “normalidade” através do sofisma. 
É necessário que haja mais inquietações e avidez para a construção de novos saberes que carreguem virtudes que possam transformar a visão das pessoas através de uma educação permanente. Um saber que possa gerar consciência permanente: a consciência de sua realidade, de sua existência nesta realidade, de como estar sendo nesta realidade, da forma como interfere nesta realidade e, principalmente, dos seus equívocos identificados nesta realidade. Mas infelizmente o “bem”, muitas vezes dorme, cochila, caminha vacilante (distraído), tropeçando naquilo que ignora, naquilo que não se interessa, porque tem, muitas vezes, seus olhos fechados para aspectos fundamentais para a construção de uma sociedade mais saudável, ou seja, uma sociedade mais esclarecida, consciente da importância de se formar indivíduos, através de uma educação sóbria, conhecedores de seus direitos e praticantes de seus deveres, conscientes da importância do "outro". 
O mundo precisa de mais pessoas conscientes e interessadas em promover o bem (militantes da ética, da paz e do respeito absoluto pelo outro), com mais ousadia e empenho do que aqueles que praticam o mal. 

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Violência, humanização e respeito

A violência é um comportamento de fraqueza. Um ato covarde de quem não tem força de argumentação e equilíbrio. Um comportamento de quem ainda não possui suas "faculdades cognitivas desenvolvidas" (se é que a pessoa sabe o que significa isto). Um equívoco na formação do caráter. Uma atitude de quem ainda não aprendeu que a violência é uma cultura ou comportamento primitivo, praticado por aqueles indivíduos que ainda não conheciam ou conhecem outra forma de comunicação (como os animais. Haja vista, os animais não praticam covardia. A prática covarde é "humana"). Pessoas que praticam a covardia da violência (seja da ordem que for) para “resolver problemas” ou “prevalecer diante de um conflito” possuem deficiências gravíssimas em seu processo educacional (infelizmente ainda são milhões – não estou dizendo que a pessoa não tenha que se defender de um ato de covardia. Ela precisa se defender). Estas pessoas ainda não aprenderam que uma das virtudes do “humano” é sua capacidade de enxergar o outro, reconhecê-lo e aprender que ele (o outro) é seu Limite. Que a integridade do outro é sua “Moral”, seu “Código de Ética”. Não aprendeu que o Respeito Absoluto pelo outro é a sua Lei, e que em nenhum momento pode ser violada.
Cegueira Moral
Enquanto a violência for justificada ela nunca perderá força, nunca deixará de ser reforçada. Enquanto as pessoas não se conscientizarem de que esta prática não pode ser mais aceitável, enquanto os pais acharem que a “palmada” é um instrumento justificável de correção, e não através da força do diálogo e bons exemplos, enquanto as pessoas continuarem praticando intolerância e transferindo essa herança para seus filhos, essa prática primitiva e covarde não acabará. E quem presencia ou observa de perto uma agressão covarde e não faz nada para impedir, é tão covarde quanto o agressor! Melhor que nem se aproxime, melhor que nem olhe, porque se for omisso estará reforçando e sendo conivente com esse comportamento nocivo, ultrapassado e equivocado.

Nós como humanos ainda precisamos aprender o conceito de ser “humano”, ou seja, a oportunidade de um segundo olhar, de conhecer o outro e me reconhecer nele (conceito literal de respeito). E na medida em que o "humano" me permite um "segundo" olhar ou uma "nova leitura", consequentemente a minha visão vai sendo corrigida e aperfeiçoada (como uma escama que cai dos olhos. É como corrigir uma visão desfocada. Isto pode ser um conceito de Humanização). E que este atributo de “humanidade” permita nos distanciarmos da escuridão da ignorância, dos tempos da brutalidade e hostilidade.
Humanizar é aprender a conviver
Mas, infelizmente o que prevalece hoje é uma cultura nojenta: a cultura da ignorância (onde todos estão virtualmente ligados, mas humanamente desligados, todos desconhecidos), onde se exalta a brutalidade, a indiferença e o desrespeito. 

domingo, 10 de abril de 2016

Entre dois caminhos

Existem alguns aspectos que são impedimentos na vida. Um deles que gostaria de destacar diz respeito a um certo tipo de "orgulho". Estou falando daquilo que é negativo, que prejudica, que causa danos, que paralisa, que aprendemos a construir como defesa, para nos protejer do "outro", mas que depois de certo tempo de maturação deveríamos renunciá-lo à medida que vamos nos aperfeiçoando como “humanos”, na medida em que vamos conhecendo a nós mesmos e reconhecendo o outro, suas virtudes e limitações. Acredito que a função da humanidade é de promover o bom convívio através da harmonia construída sobre o nosso aperfeiçoamento como “seres pensantes” e cognitivos, identificando os “lugares” desconhecidos da ignorância, vencendo e superando medos que servem para nos armar contra nós mesmos. A “humanidade” tem a função de desenvolver a mais nobre de suas virtudes: a humildade!
Portanto, vejo que esse orgulho “negativo” é um reflexo da ignorância, não em relação ao outro, mas em relação a nós mesmos. É sinal de fraqueza, de fragilidade e insegurança naquele que se declara forte, seguro, auto-suficiente, que acha que pode viver só e que não precisa de ninguém, e que ainda conserva esse "orgulho" como algo importante e valoroso. Mas na verdade, é um mecanismo que provoca desarmonia, desentendimento, mágoas e solidão. Esse orgulho impede a “humanidade” de continuar se aperfeiçoando, de gerar novas inquietações, de encontrar novas alternativas, de criar novos meios que permitam o melhor relacionamento com o outro e o mundo.
Portanto, podemos escolher entre dois caminhos: do orgulho com um percurso estéril, improdutivo, de desencontros ou da humildade com um percurso fértil, produtivo e aberto de possibilidades, de aproximação e encontros.


Que possamos fazer a melhor escolha! 

sexta-feira, 8 de abril de 2016

A cultura do "mal" é a nova moda

Esses dias eu assisti uma entrevista de um policial brasileiro que trabalha na Polícia Norte Americana, onde discorria a respeito das diferenças existentes entre trabalhar lá e no Brasil. Durante a entrevista o policial falava da maneira como são tratados no outro País. Do suporte que recebem e da motivação de exercer a profissão com louvor. Do excelente salário, dos benefícios, de isenções de imposto sobre certas aquisições (descontos sobre compra de imóvel ou carro). Falou do respeito e credibilidade que eles possuem da sociedade (eles são vistos como heróis). Falou também que lá o crime é efetivamente perseguido e combatido, onde o código penal realmente funciona, e quando eles prendem o Estado pune com o rigor necessário. Enfim, eles se sentem satisfeitos com o trabalho que realizam, porque acreditam e observam que a justiça realmente funciona (é claro que em todos os lugares e atividades existam suas falhas).
Agora em relação ao Brasil, ele fez alguns apontamentos desfavoráveis, por exemplo, em relação ao péssimo salário e condições de trabalho que são desmotivadores, e para piorar o policial muitas vezes é visto como bandido (isso porque a marginalidade socializou-se e virou cultura), não é valorizado pela sociedade (é claro que são visíveis as deficiências e fragilidades da polícia brasileira, mas o principal culpado é o Estado, com seus governos incompetentes e mal intencionados). Enfatizou como seria importante o apoio da sociedade (seria um fator motivante para a polícia) e o respaldo do Estado proporcionando estrutura como um salário digno, que honre uma atividade fundamental para o bem estar da sociedade, bem como os recursos necessários para o combate ao crime. Mas infelizmente não é o que acontece, e mesmo assim a polícia está aí, boa ou não, combatendo o crime e arriscando sua vida para defender a sociedade. Eu chego à conclusão de que a polícia juntamente com a educação foi propositalmente abandonada pelo Estado. E quem está se beneficiando com isso?
Uma coisa é certa, a criminalidade se fortaleceu se organizou e se estabeleceu de forma econômica, política e cultural, e tudo isto debaixo dos olhos do Estado.
Em outro aspecto, eu fico impressionado como essa cultura do "mal" tem se manifestado e influenciado a sociedade. E isso acontece em diversos aspectos, e está se refletindo nas relações em geral, através da linguagem, da música, das programações de TV, como as novelas e filmes (o bandido virou herói). Mas a mídia tem sido grande parceira nisto, tem promovido certas figuras deprimentes como grandes formadores de opinião e proporcionado riquezas para muitos. A "cultura" da marginalidade, que antes era restrita somente aos grupos marginais e dentro das penitenciárias, espalhou-se, e socializou-se mudando a visão da sociedade. O “mau” que antes estava distante, agora está perto, visível, ousado, invadiu as relações familiares e está incutido na personalidade desta e das próximas gerações. E podemos enxergar isso no comportamento das pessoas. Perderam a noção de limite, estão mais agressivas, indiferentes e não conhecem mais o significado de "respeito". Desta forma eu não vislumbro boas perspectivas para do futuro, mas com certeza cumpro com o meu papel de pai contribuindo para que meus filhos se tornem bons cidadãos. Em outras palavras, as influências não vêm mais dos "bons", mas, infelizmente daqueles que transmitem apologias do "mal". E essas apologias estão refletidas de diversas formas, onde muitos a representam e que talvez nem saibam. E isso acontece porque a política educacional é deficiente, distorcida e desprezada por um Estado que é dirigido por poderes que se beneficiam com esse contexto. 
Em relação à polícia, que foi constituída para nossa defesa, passou a ser vista como inimiga. E aí está a prova de como a visão da sociedade foi influenciada por essa cultura. Obviamente que há bons e maus dentro da polícia, como em qualquer outro ramo de atividade, mas isto é outra discussão.
Isso provocou grandes danos na sociedade. O ser humano está mais frio e insensível. Não respeita mais a vida. A vida ficou “coisificada”. Em outras palavras, a vida passou a ser qualquer coisa, o outro é qualquer coisa, não tem importância. É como dizer: "A vida do outro está em minhas mãos, eu decido se deixo viver ou morrer".
Há muitas coisas para se fazer neste País, muitas transformações são necessárias, e essas transformações precisam começar no núcleo da sociedade, dentro de casa, no "seio" da família, com mudança de conceitos, de valores. As pessoas precisam aprender a terem um “olhar crítico”, a questionarem aquilo que acreditam, que consideram como "valor" (é preciso começar a medir), e permitir aberturas para um novo saber, para um novo olhar, para novas perspectivas, com o objetivo de conduzir seus filhos pelo caminho do "bem", compromissados com a honestidade e com o respeito absoluto pelo outro. (Romeu Oliveira) 

segunda-feira, 21 de março de 2016

Uma reflexão sobre política e visão democrática


Quero externar minha opinião a respeito dos movimentos que ocorrem no Brasil. Afinal, como diz a nossa constituição: “Vivemos num estado democrático de direito” (questionável), mas parece que muita gente não sabe! 
Eu fico impressionado com a atitude de muitas pessoas diante das manifestações. Concordo que é importante e necessário esse movimento para darmos início a um processo de moralização na política do País. Como eu não tenho visão político partidária, sou favorável a punição de qualquer figura envolvida em corrupção, seja governista ou oposição (haja vista, o partidarismo me engessa e restringe minha capacidade de discernir – opinião pessoal). Ah! E também não acredito mais em salvador da Pátria ou super homem. 
Mas o que está me incomodando é uma onda de intolerância e violência, onde ninguém pode mais expressar opiniões diferentes. Está ocorrendo um movimento de constrangimento que acho desonesto. Pessoas sendo expostas e chacoteadas por serem a favor ou até mesmo neutras ao Governo ou a quem quer que seja. Isso não é democracia! Gente falando a favor da honestidade, da transparência, da democracia, mas ao mesmo tempo perseguindo quem possui opinião diferente. É preciso aprender a conviver com as diferenças, respeitar aquele que pensa diferente. Não temos a obrigação de concordar, mas é necessário respeitar o contraditório e também as liberdades. Estou indignado com a violência, com a intimidação, seja física ou verbal. Estamos querendo jogar todas as mazelas para cima de duas pessoas (não estou defendendo, mesmo porque não sou petista, e acho que precisam ser responsabilizados pelos seus atos ilícitos), mas a corrupção é generalizada. Se, praticaram corrupção é porque houve conivência de muitos. 
O congresso está cheio de ratos e parasitas. Todos bem quietinhos achando que depois que isso acabar suas “barras” ficarão limpas. Só quero ver o que vai acontecer com os líderes da oposição também envolvidos nesse esquema. Só quero ver se haverá uma investigação séria a respeito da corrupção, por exemplo, dentro do governo de São Paulo (que vem barrando todas as CPIs – é muito estranha essa facilidade né?!) como outras cidades. Esse movimento não pode parar com a queda do Governo, porque se isso acontecer, é sinal de que não há realmente consciência política, mas sim uma onda manipulada da oposição. 
A verdade, é que a corrupção está em cada um, mas aprendemos a identificá-las somente nos outros: Nos divertimos com o bullying (não se respeita a integridade ou o espaço do outro), não se respeita mais os idosos, aquele que é mais frágil. Ao mesmo tempo em que falamos de respeito, fazemos gozação quando alguém tropeça, achamos graça quando alguém tem sua individualidade violada por pegadinhas causando-lhe constrangido, achamos normal o tal “jeitinho, perverso, brasileiro” quando cortamos uma fila, quando ficamos calados ao recebermos um troco a mais em uma compra, achamos normal convivermos com a covardia, nos silenciamos diante de uma cena onde alguém é agredido ou violentado, e nos preocupamos em filmar e postar nas redes sociais, entre outras “manobras” que cada um sabe identificar. 
Vivemos num tempo onde a ignorância e a violência não são mais atitudes de causar constrangimento, mas sim de orgulho! 




segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Mentimos e ao mesmo tempo nos enganamos

Acredito que os relacionamentos seriam mais saudáveis se aprendêssemos 

a assimilar e conviver com a transparência ou sinceridade!


Esses dias eu assisti a um filme e um diálogo chamou bastante a minha atenção. Um casal retornava de uma festa onde puderam reencontrar colegas e conhecidos do tempo de colégio. E falavam sobre o desenrolar da vida de cada um. O marido meio incomodado desabafou sobre seu próprio casamento, as dificuldades que passavam e que a esposa poderia ter “se dado melhor na vida” se tivesse escolhido outro pretendente, por ser muito bonita. E a esposa olhando para ele e demonstrando compaixão respondeu dizendo que o escolheu pela pessoa que ele é. Uma pessoa legal e engraçada, mas não percebi sinceridade. Ao ouvi-la o marido se animou, mas ainda que desconfiado (ele sabia de que ela não falara a verdade).
Isso me deixou muito intrigado e fiquei pensando como a gente se engana! Mentimos e ao mesmo tempo nos enganamos.  Como somos frágeis!
Por diversos fatores nosso discurso é desenvolvido sempre para agradar o ego do outro. Na maioria das vezes ou quase sempre nós dizemos aquilo que não queremos (e quantos não "morrem engasgados" porque não falaram o que queriam?!). A gente se ofende com a sinceridade. Infelizmente aprendemos a agir assim. Aprendemos em casa com nossos pais, na escola e nas outras relações durante a vida. Quando saímos da fase de criança, somos impelidos a trocar a transparência pela hipocrisia e pela conveniência (somos impelidos ao mesmo tempo que impomos). Aprendemos a desenvolver vários personagens. Um para o convívio em casa, outro para namorar (e depois trocamos o personagem quando casamos), outro diante de uma entrevista de trabalho, outro nas redes sociais, etc.
Não temos o direito de expressarmos o que realmente somos! Vivemos numa ditadura pessoal disfarçada
Somos prisioneiros de nossos personagens, prisioneiros do constrangimento! Não existe abertura ou liberdade para transparência, vivemos em uma "falsa realidade" (acredito em raras exceções). Sinceridade significa desrespeito. Vivemos dentro de um “estado democrático de direito”, ou seja, inseridos em uma democracia (questionada) que permite a liberdade de expressão. Mas eu sou livre para me expressar desde que o outro concorde. Não sabemos lidar com as diferenças e com o contraditório. É um circulo vicioso (eu não falo o que você não quer ouvir desde que você também não fale daquilo que eu não queira). A sinceridade expõe, infelizmente constrange (e constrange porque ocorre geralmente diante de uma piada ou uma discussão acalorada), nos deixa despidos, mostra a nossa nudez, expõe as nossas mazelas (as nossas fragilidades), aquilo pelo qual fechamos os olhos, que nos incomoda mas aprendemos a conviver. (Romeu Oliveira

domingo, 10 de janeiro de 2016

Tempo, existência e vida!

"A vida é uma sequência de encontros inéditos
com o mundo e portanto não se deixa traduzir 
por fórmulas de nenhuma espécie!" 
(Clóvis de Barros Filho) 
Geralmente quando me perguntam qual é a minha idade fico intrigado e me questiono se perguntam do meu tempo de existência ou de vida! Pode ser que literalmente não tenha diferença, mas ainda me incomoda.
Em função disso gostaria de levantar três aspectos: 

Primeiro: Quando desenho existência visualizo algo inteiro e estático. Afinal tudo que eu identifico e reconheço existe, até mesmo um objeto inanimado qualquer. É inegável a sua existência, mas dá um sentimento de vazio em si!
Por outro lado quando penso em vida visualizo energia e movimento, algo que se desenvolve, que é dinâmico, corrente, que impulsiona e se modifica por ser fértil, que se renova porque a sua manifestação é única e singular. A vida dá sentido e significado, e ela só acontece no presente

Segundo: Por tanto a minha idade é relativa, depende das minhas circunstâncias, da intensidade de vida que derramo sobre a minha existência, das experiências, da maneira como sou atingido e transformado durante o percurso. 
E por ser relativa, tem momento em que estou jovem, em outro estou velho, criança ou adulto.
Tem momentos em que estou jovem (me sinto imortal), arrojado, fértil, forte e imponente;
Em outros estou velho (encerrado), impotente, improdutivo, desesperançoso e conformado (não estou me referindo à idade. Tenho respeito absoluto pela velhice e espero envelhecer. Falo sobre "estado de espírito", sobre desistência, em abandonar o percurso, perder o sentido e não enxergar perspectivas. Enfim, em abandonar a vida); 
Já em outros sou criança, estou "presente!", desarmado, suscetível, criativo, me vejo brincando e encantado com as coisas mais simples; 
Mas tem momentos em que estou adulto "racional" (deslocado, moldado, enquadrado e rendido), intransigente, prisioneiro das certezas, das mágoas (endurecido pelas guerras) e embriagado pela "normalidade".
Mas ainda há outro momento em que estou atemporal: não estou em fase alguma, desprendido do tempo, somente comigo mesmo, sendo eu, sem máscaras, sem marcas, sem idade, despido, eu mesmo. Assim consigo ser ao mesmo tempo, um pouco criança (colorindo a vida), um pouco jovem (sonhador), um pouco velho (maduro, consciente, sóbrio e ao mesmo tempo embriagado com poesia) e enfim, mais responsável com a vida, como adulto. 

Terceiro: Agora, tenho a sensação de que a "idade ou tempo de existência" me limita, me aliena e provoca em mim adiamentos, e esses adiamentos não permitem que eu apreenda e absorva a vida com plenitude. Me sinto perdido e angustiado porque estou deslocado para um “ideal de tempo” que me ensinaram a buscar, que não existe, que não é presente, que não me pertence, porque ainda não vivi (e talvez não viva). 
Não me permite viver com plenitude aquilo que realmente importa. E o que importa é estar aqui hoje, vivendo agora! 
E quando eu olho para a minha existência e a vejo vazia de sentidos e percebo que não preenchi com vida, que não marquei com experiências, com transformações, que não colori como deveria, com liberdade, enfim com plenitude, vejo uma existência sem significados, sem “presença”.  
Mas agora percebo que esse “ideal de tempo” esteve sempre bem próximo, vivo e fértil diante de mim: o meu presente! 

Por tanto a minha idade é o meu presente!

Uma coisa eu sei, que não sou sempre o mesmo, porque cada dia é como um novo nascimento. Cada momento de encontro com o mundo sou atingido, surpreendido e marcado por ele, de alguma forma, e isso me transforma. Mas sei também que essa transformação é relativa, depende das minhas circunstâncias, do meu "estado de espírito", se estou aberto ou fechado. (Romeu Oliveira) 

Nos enxergamos nos outros e nem percebemos!


Geralmente reclamamos dos outros em relação à ignorância, a discórdia, o preconceito e a violência. Ficamos perplexos com as guerras nos outros Países, com a intolerância religiosa, com a corrupção, principalmente na política, com a exploração do trabalho escravo, com uma briga no transito que termina, algumas vezes, em tragédia. Ficamos chocados com a criminalidade e com tanta maldade, não só em nossa sociedade, mas no mundo inteiro. 
No entanto, não somos capazes de nos relacionar bem com a nossa própria família, com nosso vizinho, com nosso colega de trabalho ou colega de escola. Muitas vezes somos intolerantes (trocamos uma injustiça por outra), preconceituosos e arrogantes. Governamos nossa casa com mãos de ferro. Maltratamos nosso cônjuge, nossos filhos (e pior é que transferimos para nossos filhos essa herança maldita que é a “cultura da violência). 
Apontamos o dedo para o outro, ou seja, sabemos identificar as mazelas no outro, mas não as percebemos em nós mesmos. 
Nos enxergamos nos outros e nem percebemos!

Mas podemos buscar singularidade! 
Diante de uma correnteza de "viveres" sem significado, de uma "normalidade imbecil", que não produz nada novo, ainda é possível "remar contra a maré" e buscar novos olhares, novas rotas, novos sentidos, e estarmos em sintonia conosco e com o mundo! 

Como fazer o bem? 
Existe um exercício:
Primeiro começo em casa, amando minha família! 


Por Romeu Oliveira


domingo, 3 de janeiro de 2016

Corpo e presença

Se eu não tiver o "coração" para nada me servirá o corpo! 
Se eu não tiver do outro o desejo, a vontade, a escolha de permanecer, o resto não terá significado (De que adianta ter o corpo se não tiver a presença?)

É como manter um passarinho preso. Nós o alimentamos e tiramos a sua sujeira, mas sabemos que não podemos deixar a gaiola aberta, porque ele não está ali por escolha. Negaram-lhe a escolha. E ainda achamos que ele canta! Ele chora... 

Assim acontece com quem não está com o "coração". Tenho
o seu corpo mas não o seu desejo ou a vontade de permanecer. Pode até estar ao lado, mas não está presente.
O egoísmo é tão grande (eu só me importo com o que eu sinto) que me contento apenas com o corpo e não com aquilo que realmente importa: a "presença": o pensamento, o encanto, a alegria, o brilhar dos olhos, a respiração ofegante, a saudade da minha companhia, a vontade de sentir o meu cheiro, de tocar a minha pele e se confortar com o meu abraço. 
Se não for assim, não existe sentido e se eu me conformar somente com o corpo é como me deitar ao lado de um cadáver. 

Por Romeu Oliveira