segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Mentimos e ao mesmo tempo nos enganamos

Acredito que os relacionamentos seriam mais saudáveis se aprendêssemos 

a assimilar e conviver com a transparência ou sinceridade!


Esses dias eu assisti a um filme e um diálogo chamou bastante a minha atenção. Um casal retornava de uma festa onde puderam reencontrar colegas e conhecidos do tempo de colégio. E falavam sobre o desenrolar da vida de cada um. O marido meio incomodado desabafou sobre seu próprio casamento, as dificuldades que passavam e que a esposa poderia ter “se dado melhor na vida” se tivesse escolhido outro pretendente, por ser muito bonita. E a esposa olhando para ele e demonstrando compaixão respondeu dizendo que o escolheu pela pessoa que ele é. Uma pessoa legal e engraçada, mas não percebi sinceridade. Ao ouvi-la o marido se animou, mas ainda que desconfiado (ele sabia de que ela não falara a verdade).
Isso me deixou muito intrigado e fiquei pensando como a gente se engana! Mentimos e ao mesmo tempo nos enganamos.  Como somos frágeis!
Por diversos fatores nosso discurso é desenvolvido sempre para agradar o ego do outro. Na maioria das vezes ou quase sempre nós dizemos aquilo que não queremos (e quantos não "morrem engasgados" porque não falaram o que queriam?!). A gente se ofende com a sinceridade. Infelizmente aprendemos a agir assim. Aprendemos em casa com nossos pais, na escola e nas outras relações durante a vida. Quando saímos da fase de criança, somos impelidos a trocar a transparência pela hipocrisia e pela conveniência (somos impelidos ao mesmo tempo que impomos). Aprendemos a desenvolver vários personagens. Um para o convívio em casa, outro para namorar (e depois trocamos o personagem quando casamos), outro diante de uma entrevista de trabalho, outro nas redes sociais, etc.
Não temos o direito de expressarmos o que realmente somos! Vivemos numa ditadura pessoal disfarçada
Somos prisioneiros de nossos personagens, prisioneiros do constrangimento! Não existe abertura ou liberdade para transparência, vivemos em uma "falsa realidade" (acredito em raras exceções). Sinceridade significa desrespeito. Vivemos dentro de um “estado democrático de direito”, ou seja, inseridos em uma democracia (questionada) que permite a liberdade de expressão. Mas eu sou livre para me expressar desde que o outro concorde. Não sabemos lidar com as diferenças e com o contraditório. É um circulo vicioso (eu não falo o que você não quer ouvir desde que você também não fale daquilo que eu não queira). A sinceridade expõe, infelizmente constrange (e constrange porque ocorre geralmente diante de uma piada ou uma discussão acalorada), nos deixa despidos, mostra a nossa nudez, expõe as nossas mazelas (as nossas fragilidades), aquilo pelo qual fechamos os olhos, que nos incomoda mas aprendemos a conviver. (Romeu Oliveira

domingo, 10 de janeiro de 2016

Tempo, existência e vida!

"A vida é uma sequência de encontros inéditos
com o mundo e portanto não se deixa traduzir 
por fórmulas de nenhuma espécie!" 
(Clóvis de Barros Filho) 
Geralmente quando me perguntam qual é a minha idade fico intrigado e me questiono se perguntam do meu tempo de existência ou de vida! Pode ser que literalmente não tenha diferença, mas ainda me incomoda.
Em função disso gostaria de levantar três aspectos: 

Primeiro: Quando desenho existência visualizo algo inteiro e estático. Afinal tudo que eu identifico e reconheço existe, até mesmo um objeto inanimado qualquer. É inegável a sua existência, mas dá um sentimento de vazio em si!
Por outro lado quando penso em vida visualizo energia e movimento, algo que se desenvolve, que é dinâmico, corrente, que impulsiona e se modifica por ser fértil, que se renova porque a sua manifestação é única e singular. A vida dá sentido e significado, e ela só acontece no presente

Segundo: Por tanto a minha idade é relativa, depende das minhas circunstâncias, da intensidade de vida que derramo sobre a minha existência, das experiências, da maneira como sou atingido e transformado durante o percurso. 
E por ser relativa, tem momento em que estou jovem, em outro estou velho, criança ou adulto.
Tem momentos em que estou jovem (me sinto imortal), arrojado, fértil, forte e imponente;
Em outros estou velho (encerrado), impotente, improdutivo, desesperançoso e conformado (não estou me referindo à idade. Tenho respeito absoluto pela velhice e espero envelhecer. Falo sobre "estado de espírito", sobre desistência, em abandonar o percurso, perder o sentido e não enxergar perspectivas. Enfim, em abandonar a vida); 
Já em outros sou criança, estou "presente!", desarmado, suscetível, criativo, me vejo brincando e encantado com as coisas mais simples; 
Mas tem momentos em que estou adulto "racional" (deslocado, moldado, enquadrado e rendido), intransigente, prisioneiro das certezas, das mágoas (endurecido pelas guerras) e embriagado pela "normalidade".
Mas ainda há outro momento em que estou atemporal: não estou em fase alguma, desprendido do tempo, somente comigo mesmo, sendo eu, sem máscaras, sem marcas, sem idade, despido, eu mesmo. Assim consigo ser ao mesmo tempo, um pouco criança (colorindo a vida), um pouco jovem (sonhador), um pouco velho (maduro, consciente, sóbrio e ao mesmo tempo embriagado com poesia) e enfim, mais responsável com a vida, como adulto. 

Terceiro: Agora, tenho a sensação de que a "idade ou tempo de existência" me limita, me aliena e provoca em mim adiamentos, e esses adiamentos não permitem que eu apreenda e absorva a vida com plenitude. Me sinto perdido e angustiado porque estou deslocado para um “ideal de tempo” que me ensinaram a buscar, que não existe, que não é presente, que não me pertence, porque ainda não vivi (e talvez não viva). 
Não me permite viver com plenitude aquilo que realmente importa. E o que importa é estar aqui hoje, vivendo agora! 
E quando eu olho para a minha existência e a vejo vazia de sentidos e percebo que não preenchi com vida, que não marquei com experiências, com transformações, que não colori como deveria, com liberdade, enfim com plenitude, vejo uma existência sem significados, sem “presença”.  
Mas agora percebo que esse “ideal de tempo” esteve sempre bem próximo, vivo e fértil diante de mim: o meu presente! 

Por tanto a minha idade é o meu presente!

Uma coisa eu sei, que não sou sempre o mesmo, porque cada dia é como um novo nascimento. Cada momento de encontro com o mundo sou atingido, surpreendido e marcado por ele, de alguma forma, e isso me transforma. Mas sei também que essa transformação é relativa, depende das minhas circunstâncias, do meu "estado de espírito", se estou aberto ou fechado. (Romeu Oliveira) 

Nos enxergamos nos outros e nem percebemos!


Geralmente reclamamos dos outros em relação à ignorância, a discórdia, o preconceito e a violência. Ficamos perplexos com as guerras nos outros Países, com a intolerância religiosa, com a corrupção, principalmente na política, com a exploração do trabalho escravo, com uma briga no transito que termina, algumas vezes, em tragédia. Ficamos chocados com a criminalidade e com tanta maldade, não só em nossa sociedade, mas no mundo inteiro. 
No entanto, não somos capazes de nos relacionar bem com a nossa própria família, com nosso vizinho, com nosso colega de trabalho ou colega de escola. Muitas vezes somos intolerantes (trocamos uma injustiça por outra), preconceituosos e arrogantes. Governamos nossa casa com mãos de ferro. Maltratamos nosso cônjuge, nossos filhos (e pior é que transferimos para nossos filhos essa herança maldita que é a “cultura da violência). 
Apontamos o dedo para o outro, ou seja, sabemos identificar as mazelas no outro, mas não as percebemos em nós mesmos. 
Nos enxergamos nos outros e nem percebemos!

Mas podemos buscar singularidade! 
Diante de uma correnteza de "viveres" sem significado, de uma "normalidade imbecil", que não produz nada novo, ainda é possível "remar contra a maré" e buscar novos olhares, novas rotas, novos sentidos, e estarmos em sintonia conosco e com o mundo! 

Como fazer o bem? 
Existe um exercício:
Primeiro começo em casa, amando minha família! 


Por Romeu Oliveira


domingo, 3 de janeiro de 2016

Corpo e presença

Se eu não tiver o "coração" para nada me servirá o corpo! 
Se eu não tiver do outro o desejo, a vontade, a escolha de permanecer, o resto não terá significado (De que adianta ter o corpo se não tiver a presença?)

É como manter um passarinho preso. Nós o alimentamos e tiramos a sua sujeira, mas sabemos que não podemos deixar a gaiola aberta, porque ele não está ali por escolha. Negaram-lhe a escolha. E ainda achamos que ele canta! Ele chora... 

Assim acontece com quem não está com o "coração". Tenho
o seu corpo mas não o seu desejo ou a vontade de permanecer. Pode até estar ao lado, mas não está presente.
O egoísmo é tão grande (eu só me importo com o que eu sinto) que me contento apenas com o corpo e não com aquilo que realmente importa: a "presença": o pensamento, o encanto, a alegria, o brilhar dos olhos, a respiração ofegante, a saudade da minha companhia, a vontade de sentir o meu cheiro, de tocar a minha pele e se confortar com o meu abraço. 
Se não for assim, não existe sentido e se eu me conformar somente com o corpo é como me deitar ao lado de um cadáver. 

Por Romeu Oliveira