domingo, 10 de janeiro de 2016

Tempo, existência e vida!

"A vida é uma sequência de encontros inéditos
com o mundo e portanto não se deixa traduzir 
por fórmulas de nenhuma espécie!" 
(Clóvis de Barros Filho) 
Geralmente quando me perguntam qual é a minha idade fico intrigado e me questiono se perguntam do meu tempo de existência ou de vida! Pode ser que literalmente não tenha diferença, mas ainda me incomoda.
Em função disso gostaria de levantar três aspectos: 

Primeiro: Quando desenho existência visualizo algo inteiro e estático. Afinal tudo que eu identifico e reconheço existe, até mesmo um objeto inanimado qualquer. É inegável a sua existência, mas dá um sentimento de vazio em si!
Por outro lado quando penso em vida visualizo energia e movimento, algo que se desenvolve, que é dinâmico, corrente, que impulsiona e se modifica por ser fértil, que se renova porque a sua manifestação é única e singular. A vida dá sentido e significado, e ela só acontece no presente

Segundo: Por tanto a minha idade é relativa, depende das minhas circunstâncias, da intensidade de vida que derramo sobre a minha existência, das experiências, da maneira como sou atingido e transformado durante o percurso. 
E por ser relativa, tem momento em que estou jovem, em outro estou velho, criança ou adulto.
Tem momentos em que estou jovem (me sinto imortal), arrojado, fértil, forte e imponente;
Em outros estou velho (encerrado), impotente, improdutivo, desesperançoso e conformado (não estou me referindo à idade. Tenho respeito absoluto pela velhice e espero envelhecer. Falo sobre "estado de espírito", sobre desistência, em abandonar o percurso, perder o sentido e não enxergar perspectivas. Enfim, em abandonar a vida); 
Já em outros sou criança, estou "presente!", desarmado, suscetível, criativo, me vejo brincando e encantado com as coisas mais simples; 
Mas tem momentos em que estou adulto "racional" (deslocado, moldado, enquadrado e rendido), intransigente, prisioneiro das certezas, das mágoas (endurecido pelas guerras) e embriagado pela "normalidade".
Mas ainda há outro momento em que estou atemporal: não estou em fase alguma, desprendido do tempo, somente comigo mesmo, sendo eu, sem máscaras, sem marcas, sem idade, despido, eu mesmo. Assim consigo ser ao mesmo tempo, um pouco criança (colorindo a vida), um pouco jovem (sonhador), um pouco velho (maduro, consciente, sóbrio e ao mesmo tempo embriagado com poesia) e enfim, mais responsável com a vida, como adulto. 

Terceiro: Agora, tenho a sensação de que a "idade ou tempo de existência" me limita, me aliena e provoca em mim adiamentos, e esses adiamentos não permitem que eu apreenda e absorva a vida com plenitude. Me sinto perdido e angustiado porque estou deslocado para um “ideal de tempo” que me ensinaram a buscar, que não existe, que não é presente, que não me pertence, porque ainda não vivi (e talvez não viva). 
Não me permite viver com plenitude aquilo que realmente importa. E o que importa é estar aqui hoje, vivendo agora! 
E quando eu olho para a minha existência e a vejo vazia de sentidos e percebo que não preenchi com vida, que não marquei com experiências, com transformações, que não colori como deveria, com liberdade, enfim com plenitude, vejo uma existência sem significados, sem “presença”.  
Mas agora percebo que esse “ideal de tempo” esteve sempre bem próximo, vivo e fértil diante de mim: o meu presente! 

Por tanto a minha idade é o meu presente!

Uma coisa eu sei, que não sou sempre o mesmo, porque cada dia é como um novo nascimento. Cada momento de encontro com o mundo sou atingido, surpreendido e marcado por ele, de alguma forma, e isso me transforma. Mas sei também que essa transformação é relativa, depende das minhas circunstâncias, do meu "estado de espírito", se estou aberto ou fechado. (Romeu Oliveira) 

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