domingo, 10 de abril de 2016

Entre dois caminhos

Existem alguns aspectos que são impedimentos na vida. Um deles que gostaria de destacar diz respeito a um certo tipo de "orgulho". Estou falando daquilo que é negativo, que prejudica, que causa danos, que paralisa, que aprendemos a construir como defesa, para nos protejer do "outro", mas que depois de certo tempo de maturação deveríamos renunciá-lo à medida que vamos nos aperfeiçoando como “humanos”, na medida em que vamos conhecendo a nós mesmos e reconhecendo o outro, suas virtudes e limitações. Acredito que a função da humanidade é de promover o bom convívio através da harmonia construída sobre o nosso aperfeiçoamento como “seres pensantes” e cognitivos, identificando os “lugares” desconhecidos da ignorância, vencendo e superando medos que servem para nos armar contra nós mesmos. A “humanidade” tem a função de desenvolver a mais nobre de suas virtudes: a humildade!
Portanto, vejo que esse orgulho “negativo” é um reflexo da ignorância, não em relação ao outro, mas em relação a nós mesmos. É sinal de fraqueza, de fragilidade e insegurança naquele que se declara forte, seguro, auto-suficiente, que acha que pode viver só e que não precisa de ninguém, e que ainda conserva esse "orgulho" como algo importante e valoroso. Mas na verdade, é um mecanismo que provoca desarmonia, desentendimento, mágoas e solidão. Esse orgulho impede a “humanidade” de continuar se aperfeiçoando, de gerar novas inquietações, de encontrar novas alternativas, de criar novos meios que permitam o melhor relacionamento com o outro e o mundo.
Portanto, podemos escolher entre dois caminhos: do orgulho com um percurso estéril, improdutivo, de desencontros ou da humildade com um percurso fértil, produtivo e aberto de possibilidades, de aproximação e encontros.


Que possamos fazer a melhor escolha! 

sexta-feira, 8 de abril de 2016

A cultura do "mal" é a nova moda

Esses dias eu assisti uma entrevista de um policial brasileiro que trabalha na Polícia Norte Americana, onde discorria a respeito das diferenças existentes entre trabalhar lá e no Brasil. Durante a entrevista o policial falava da maneira como são tratados no outro País. Do suporte que recebem e da motivação de exercer a profissão com louvor. Do excelente salário, dos benefícios, de isenções de imposto sobre certas aquisições (descontos sobre compra de imóvel ou carro). Falou do respeito e credibilidade que eles possuem da sociedade (eles são vistos como heróis). Falou também que lá o crime é efetivamente perseguido e combatido, onde o código penal realmente funciona, e quando eles prendem o Estado pune com o rigor necessário. Enfim, eles se sentem satisfeitos com o trabalho que realizam, porque acreditam e observam que a justiça realmente funciona (é claro que em todos os lugares e atividades existam suas falhas).
Agora em relação ao Brasil, ele fez alguns apontamentos desfavoráveis, por exemplo, em relação ao péssimo salário e condições de trabalho que são desmotivadores, e para piorar o policial muitas vezes é visto como bandido (isso porque a marginalidade socializou-se e virou cultura), não é valorizado pela sociedade (é claro que são visíveis as deficiências e fragilidades da polícia brasileira, mas o principal culpado é o Estado, com seus governos incompetentes e mal intencionados). Enfatizou como seria importante o apoio da sociedade (seria um fator motivante para a polícia) e o respaldo do Estado proporcionando estrutura como um salário digno, que honre uma atividade fundamental para o bem estar da sociedade, bem como os recursos necessários para o combate ao crime. Mas infelizmente não é o que acontece, e mesmo assim a polícia está aí, boa ou não, combatendo o crime e arriscando sua vida para defender a sociedade. Eu chego à conclusão de que a polícia juntamente com a educação foi propositalmente abandonada pelo Estado. E quem está se beneficiando com isso?
Uma coisa é certa, a criminalidade se fortaleceu se organizou e se estabeleceu de forma econômica, política e cultural, e tudo isto debaixo dos olhos do Estado.
Em outro aspecto, eu fico impressionado como essa cultura do "mal" tem se manifestado e influenciado a sociedade. E isso acontece em diversos aspectos, e está se refletindo nas relações em geral, através da linguagem, da música, das programações de TV, como as novelas e filmes (o bandido virou herói). Mas a mídia tem sido grande parceira nisto, tem promovido certas figuras deprimentes como grandes formadores de opinião e proporcionado riquezas para muitos. A "cultura" da marginalidade, que antes era restrita somente aos grupos marginais e dentro das penitenciárias, espalhou-se, e socializou-se mudando a visão da sociedade. O “mau” que antes estava distante, agora está perto, visível, ousado, invadiu as relações familiares e está incutido na personalidade desta e das próximas gerações. E podemos enxergar isso no comportamento das pessoas. Perderam a noção de limite, estão mais agressivas, indiferentes e não conhecem mais o significado de "respeito". Desta forma eu não vislumbro boas perspectivas para do futuro, mas com certeza cumpro com o meu papel de pai contribuindo para que meus filhos se tornem bons cidadãos. Em outras palavras, as influências não vêm mais dos "bons", mas, infelizmente daqueles que transmitem apologias do "mal". E essas apologias estão refletidas de diversas formas, onde muitos a representam e que talvez nem saibam. E isso acontece porque a política educacional é deficiente, distorcida e desprezada por um Estado que é dirigido por poderes que se beneficiam com esse contexto. 
Em relação à polícia, que foi constituída para nossa defesa, passou a ser vista como inimiga. E aí está a prova de como a visão da sociedade foi influenciada por essa cultura. Obviamente que há bons e maus dentro da polícia, como em qualquer outro ramo de atividade, mas isto é outra discussão.
Isso provocou grandes danos na sociedade. O ser humano está mais frio e insensível. Não respeita mais a vida. A vida ficou “coisificada”. Em outras palavras, a vida passou a ser qualquer coisa, o outro é qualquer coisa, não tem importância. É como dizer: "A vida do outro está em minhas mãos, eu decido se deixo viver ou morrer".
Há muitas coisas para se fazer neste País, muitas transformações são necessárias, e essas transformações precisam começar no núcleo da sociedade, dentro de casa, no "seio" da família, com mudança de conceitos, de valores. As pessoas precisam aprender a terem um “olhar crítico”, a questionarem aquilo que acreditam, que consideram como "valor" (é preciso começar a medir), e permitir aberturas para um novo saber, para um novo olhar, para novas perspectivas, com o objetivo de conduzir seus filhos pelo caminho do "bem", compromissados com a honestidade e com o respeito absoluto pelo outro. (Romeu Oliveira)