Esses dias eu assisti uma
entrevista de um policial brasileiro que trabalha na Polícia Norte Americana,
onde discorria a respeito das diferenças existentes entre trabalhar lá e no
Brasil. Durante a entrevista o policial falava da maneira como são tratados no
outro País. Do suporte que recebem e da motivação de exercer a profissão com
louvor. Do excelente salário, dos benefícios, de isenções de imposto sobre
certas aquisições (descontos sobre compra de imóvel ou carro). Falou do
respeito e credibilidade que eles possuem da sociedade (eles são vistos como heróis). Falou também que lá o crime é efetivamente
perseguido e combatido, onde o código penal realmente funciona, e quando eles
prendem o Estado pune com o rigor necessário. Enfim, eles se sentem
satisfeitos com o trabalho que realizam, porque acreditam e observam que a
justiça realmente funciona (é claro que em todos os lugares e atividades
existam suas falhas).

Agora em relação ao Brasil, ele
fez alguns apontamentos desfavoráveis, por exemplo, em relação ao péssimo
salário e condições de trabalho que são desmotivadores, e para piorar o
policial muitas vezes é visto como bandido (
isso porque a marginalidade socializou-se e virou cultura),
não é valorizado pela sociedade (é
claro que são visíveis as deficiências e fragilidades da polícia brasileira,
mas o principal culpado é o Estado, com seus governos incompetentes e mal
intencionados). Enfatizou como seria importante o apoio da
sociedade (seria um fator motivante para a polícia) e o respaldo do Estado
proporcionando estrutura como um salário digno, que honre uma atividade
fundamental para o bem estar da sociedade, bem como os recursos necessários
para o combate ao crime. Mas infelizmente não é o que acontece, e mesmo assim a
polícia está aí, boa ou não, combatendo o crime e arriscando sua vida para
defender a sociedade. Eu chego à conclusão de que a
polícia juntamente com a educação foi propositalmente abandonada pelo
Estado. E quem está se beneficiando com isso?
Uma
coisa é certa, a criminalidade se fortaleceu se organizou e se estabeleceu de
forma econômica, política e cultural, e tudo isto debaixo dos olhos do Estado.
Em outro aspecto, eu fico
impressionado como essa cultura do "mal" tem se manifestado e
influenciado a sociedade. E isso acontece em diversos aspectos, e está se
refletindo nas relações em geral, através da linguagem, da música, das
programações de TV, como as novelas e filmes (o bandido virou herói). Mas a mídia tem sido grande parceira
nisto, tem promovido certas figuras deprimentes como grandes formadores de
opinião e proporcionado riquezas para muitos. A "cultura" da marginalidade, que antes era restrita somente
aos grupos marginais e dentro das penitenciárias, espalhou-se, e socializou-se
mudando a visão da sociedade. O
“mau” que antes estava distante, agora está perto, visível, ousado, invadiu as
relações familiares e está incutido na personalidade desta e das próximas
gerações. E podemos enxergar isso no comportamento das
pessoas. Perderam a noção de
limite, estão mais agressivas, indiferentes e não conhecem mais o significado
de "respeito". Desta forma eu não vislumbro boas perspectivas
para do futuro, mas com certeza cumpro com o meu papel de pai contribuindo para
que meus filhos se tornem bons cidadãos. Em outras palavras, as influências não
vêm mais dos "bons", mas, infelizmente daqueles que transmitem
apologias do "mal". E essas apologias estão refletidas de diversas
formas, onde muitos a representam e que talvez nem saibam. E isso acontece
porque a política educacional é deficiente, distorcida e desprezada por um
Estado que é dirigido por poderes que se beneficiam com esse contexto.
Em relação à polícia, que foi
constituída para nossa defesa, passou a ser vista como inimiga. E aí está a
prova de como a visão da sociedade foi influenciada por essa cultura.
Obviamente que há bons e maus dentro da polícia, como em qualquer outro ramo de
atividade, mas isto é outra discussão.
Isso provocou grandes danos na
sociedade. O ser humano está mais frio e insensível. Não respeita mais a
vida. A vida ficou
“coisificada”. Em outras palavras, a vida passou a ser qualquer
coisa, o outro é qualquer coisa, não tem importância. É como dizer: "A vida do outro está em minhas mãos, eu
decido se deixo viver ou morrer".
Há muitas coisas para se fazer
neste País, muitas transformações são necessárias, e essas transformações
precisam começar no núcleo da sociedade, dentro de casa, no "seio" da
família, com mudança de conceitos, de valores. As pessoas precisam aprender a
terem um “olhar crítico”, a questionarem aquilo que acreditam, que consideram
como "valor" (é preciso começar a medir), e permitir aberturas para
um novo saber, para um novo olhar, para novas perspectivas, com o objetivo de
conduzir seus filhos pelo caminho do "bem", compromissados com a
honestidade e com o respeito absoluto pelo outro. (Romeu Oliveira)